A relação entre o homem e a natureza

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A relação entre o homem e a natureza

A evolução da relação entre o Homem e a Natureza

Há muito que o Homem descurou a sua relação com a Natureza. Neste artigo vamos analisar esta evolução que, infelizmente, conduziu à crise ecológica em que nos encontramos.

A relação entre o Homem e a Natureza antes da Revolução Industrial

A Idade Média foi marcada pelo teocentrismo e suas decorrências como a explicação do mundo pela fé, a busca da fraternidade cristã e a convicção de que a Terra é o centro do Universo. A Natureza dos modernos veio contrapor-se a esse dogmatismo através do desencantamento, da geometrização e da mecanização do mundo.

Assim a Ciência e seus desenvolvimentos dividiram a Natureza, até lá considerada como um todo. A Natureza foi deste modo apreendida como objecto de estudo, recortada em sectores, explicada e desmistificada. O Homem extraiu-se dela, passou a ser o seu observador, libertou-se do mistério percebendo o seu funcionamento e os seus mecanismos.

Descartes, filósofo do século XVII, compara a Natureza e o corpo humano ao funcionamento mecânico de um relógio. O Homem já não faz parte dela, ele está no exterior, liberta-se, individualiza-se e ganha liberdade. Conhecendo e compreendendo a Natureza, o homem científico domina-la, não a teme excluindo o divino e a magia.

As fontes de energia pré e pós Revolução Industrial

Até a Revolução Industrial, a sociedade podia ser qualificada de sociedade solar pois as fontes de energia provinham da própria energia humana, do sol, da água ou do vento; ou seja energias renováveis. A partir da Revolução Industrial, a sociedade passou a ser fóssil com a extração do gás, do petróleo e do urânio, recursos finitos, que desde então dotam o Homem de uma força extraordinária para se expandir e acreditar nos mitos económicos do crescimento, do progresso, e do consumo.

Com tanto poder o Homem ultrapassou os seus próprios limites, ou seja a sua finitude, pondo em perigo a Natureza como a si próprio. As catástrofes, cujas as quais ditas “naturais “ e no fundo provocadas pela acção humana (alterações climáticas, catástrofes nucleares, marés negras…), testemunham de uma Natureza irremediavelmente perdida, condenando a sobrevivência das gerações futuras pela destruição dos habitats e a acumulação de detritos que permanecem num tempo infinito à escala humana, por exemplo o plutónio 239 perde a metade da sua radioatividade em 24 400 anos.

A rutura na relação entre o Homem e a Natureza

Com o evento da Revolução Industrial, no final do século XIX, surgiu, em paralelo à extração das fontes de energias fósseis, um enorme fosso entre o mundo rural e o mundo urbano que, até então, tinham convivido em harmonia.

Desde então, o crescimento exponencial das zonas urbanas e o proporcional êxodo para as metrópoles das zonas litorais, levaram ao abandono e à decadência das aldeias e do interior rural e à concentração populacional nas zonas costeiras.

Progressivamente, o Homem desligou-se do meio envolvente e passou a encarar a Natureza como algo que estava ao seu serviço. Ou seja, a Natureza passou a ter um simples valor instrumental. Por este motivo, os recursos naturais foram sendo extirpados sem quaisquer preocupações éticas e de preservação.

Assistiu-se a uma desvalorização da natureza, ao desconhecimento e ao desprezo do belo natural, que resultou no corte definitivo da ligação do Homem com a Natureza.

Os fatores que conduziram à crise ecológica dos nossos dias

A Revolução industrial alterou profundamente o modo de vida do Homem, especialmente nos países que mais se desenvolveram e cuja população aumentou exponencialmente.

Ainda que tenha contribuído para melhorar as condições de vida do homem comum, a Revolução Industrial levou a comportamentos nefastos, como por exemplo:

  • A agricultura passou a ser mecânica e intensiva, esgotando a capacidade dos solos;
  • Aumento desenfreado da população das grandes cidades do litoral e despovoamento e abandono do interior;
  • À escala mundial, também assistimos à ocupação indiscriminada, por construções e vias, dos melhores solos agrícolas, à poluição das águas pelos esgotos urbanos e industriais, à acumulação do lixo e dos resíduos;
  • Abandono das energias renováveis e uso prédominante das energias fósseis;
  • Exploração intensiva e excessiva dos recursos naturais;
  • Foco no crescimento, no progresso e no consumo excessivo, sem quaisquer limites éticos e ecológicos.

Da mudança dos comportamentos e do modo de vida resultaram consequências trágicas para a Natureza que, em última análise, estão a colocar em risco a continuação do Homem no nosso planeta.

Mudança de atitudes

Urge repensar comportamentos, políticas e sistemas económicos. No fundo, é premente alterar o nosso modo de vida para conseguirmos inverter esta rota de destruição do planeta e da Natureza.

Felizmente, vai aumentando a consciência de que é necessário tomar medidas à escala global para conseguirmos garantir um mundo sustentável para as gerações futuras.

Nos países industrialisados, grande parte dos problemas de saúde tanto psíquicos como físicos provêm do excesso de consumo. Simplicidade não significa pobreza mas sim a adopção de um estilo de vida mais sóbrio que dê lugar ao espiríto e à consciência, e que convide a apreciar, a saborear e procurar a qualidade e não a quantidade. Para tal, cada um de nós deverá assumir atitudes mais conscientes, que reduzam a nossa pegada ecológica.

No que toca à Paisageiro, gostaria de lhe dizer que pode contar connosco para desenvolver projetos sustentáveis e que visam recuperar a harmonia na relação entre o Homem e a Natureza, ao serviço da valorização do belo natural essencial ao nosso bem estar.

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por: Karine Moreau

Karine Moreau é uma arquiteta paisagista luso-francesa que, depois de se ter formado numa das melhores escolas da especialidade em França, estabeleceu-se em Portugal, mais precisamente em Sintra, para desenvolver a sua atividade profissional. Apaixonada pela natureza, pelo paisagismo e pelo urbanismo, coloca todo o seu profissionalismo e paixão ao serviço dos seus clientes – sejam particulares, empresas ou entidades públicas – por forma a criar espaços verdes que contribuem para uma melhor qualidade de vida.